Versão

Sim, inegavelmente sou uma cópia dela. Mas só por fora. Cara de uma, focinho de outra, como dizem. O gênio é dele, certamente. Os gestos, são dele. Talvez por ter convivido mais diariamente com ele, ou talvez mesmo seja a genética.
Já me disseram que caminho como ela. Me disseram que tenho a voz dela. Mas outro dia me peguei assobiando pelo meio da rua. No outro, me vi ignorando quem falava com um livro de palavras cruzadas na mão. Assim como ele, peguei um livro e consegui encontrar todas as pessoas do meu dia a dia nele.
Segui os passos profissionais dela, pelo menos os primeiros. Dizem que isso era inevitável. Meu modo de agir e pensar, porém, é mais parecido com o dele. Talvez eu tenha aprendido a ser mais controlada, mas não é difícil me deixar usar as mesmas palavras e gestos que ele usa numa discussão. Quando um discute com o outro, é melhor sair de perto. Quando os dois estão no mesmo lado em uma discussão, é melhor que os outros desistam.
A paciência dela para certas coisas eu puxei tanto quanto puxei dele a impaciência para outras. Manias dele, puxei também, além de ter criado as minhas próprias. A simpatia dela e a brutalidade social dele, de algum modo, tenho ambas.
Aliás, eu sou um misto, mas o extremo do meu humor... bom, é dele. Misto de pai e mãe, gênio de um e cara de outro. O gênio conta mais. Sou tão adorável e insuportável quanto meu pai, não egocêntrica e preocupada com os outros quanto ele. Sou praticamente igualzinha a ele, uma versão feminina. Me falta apenas descobrir se uma versão melhor ou pior.


O texto de Dia dos Pais que o meu dificilmente lerá, então, apenas um texto egocêntrico, meigo e nostálgico.

3 comentários:

Pandora disse...

Se ele vai ler eu não sei, mas foi um texto lindo!!!

Allyne Araújo disse...

muito lindo mesmo! bjooo

Rebeca Postigo disse...

Que fofo!!!

Bjs