Pega ladrão, Papai Noel!

Ele não era bem um Papai Noel, era mais um Santa Claus, pois trabalhava numa cadeia de lojas multinacional, a Emperor Presentes e Utilidades Domésticas, aquela grande, da avenida. Consta, inclusive, que fez um curso de seis semanas no próprio States para testar e aperfeiçoar sua tendência vocacional, obtendo boa nota, apesar de cantar o "Jingle Bell" com imperdoável sotaque latino-americano. Mas seu visual, mesmo sem uniforme, impressionou favoravelmente a banca examinadora: era gordo, como convém a um Papai Noel; tinha olhos da cor do céu e a capacidade de sorrir durante horas inteiras sem nenhum motivo aparente. Ora, um Papai Noel é isso: uma mancha vermelha que sabe rir e às vezes fala.
- Você está ótimo! - disse-lhe o chefe da seção de brinquedos. - As crianças vão adorá-lo!
Era véspera de Natal e a Emperor andava preocupadíssima com as vendas, inferiores ao ano anterior. E preocupada com outra coisa ainda: o incrível número de furtos, razão por que o Papai Noel além de sorrir e estimular as vendas teria que ser também um olheiro, um insuspeito fiscal de seção.
Ele passeava pelo atraente departamento de brinquedos eletrônicos, juntamente com seu sorriso, e acabara de passar a mão nos cabelos louros de um garotinho, quando viu. Viu o quê? Um homem, e mais que ele, sua mão surrupiando um trenzinho de pilha, imediatamente metido numa bolsa promocinal da Emperor. Interrompendo em meio seu sorriso, Papai Noel deu um passo firme e fez voz de vigia:
- Por favor, me deixe ver essa bolsa!
Nem todo susto é paralisante: o homem sem largar a bolsa, saiu em disparada pela seção de brinquedos, empurrando pessoas, chutando coisas, derrubando e pisando em brinquedos. Atrás desse furacão, seguia outro furacão, este encarnado, o Papai Noel aludido, que repetia em cores mais vivas os desastres provocados pelo primeiro. A cena prosseguiu com mais dramaticidade e ruídos na escadaria da Emperor, pois a seção de brinquedos era no sexto andar. No quarto pavimento Papai Noel chegou a grampear o ladrão pelo braço, mas este conseguiu escapar, livrando oito degraus entre o quarto e o segundo andares. Aí, novamente Papai Noel pôs a mão enluvada no fugitivo, mas um grupo de pessoas que saia do elevador poluiu a imagem e ele tornou a ganhar distância.
Na avenida a perseguição teve novos aspectos e emoções. A pista era melhor para corridas apesar de ainda maior o número de pessoas e obstáculos. O ladrão logo à saída da loja chocou-se com uma mulher que carregava mil pacotes, pacotinhos e pacotões. Foram todos para o chão. Um propagandista de longas pernas de pau fez uma aterrissagem forçada, que o aeroporto de Congonhas teria desaconselhado devido ao mal tempo. O Papai Noel também empurrava, esbarrava e derrubava, aduzindo ao seu esforço o clássico "pega ladrão!", um refrão tão comum na cidade que não entendo como ainda não musicaram. Na primeira esquina, quase... Um carro bloqueou a fuga do homem, que ficou hesitante pois seu colorido perseguidor se aproximava em alta velocidade.
Quando o ladrão do brinquedo entrou numa galeria da Barão, os espectadores, digamos assim, tiveram a impressão de que se livraram do Papai Noel. Mas, a câmera 2 logo mostrou o santo velhinho, entrando também na galeria com o mesmo ímpeto dos primeiros fotogramas. Aliás, embora corresse em milhas e o outro em quilômetros, não conseguia alcançá-lo.
Consta que Papai Noel perseguiu o ladrão inclusive pelo Minhocão, de ponta a ponta, onde é proibida a circulação de pedestres. Também sem resultado.
A história, que nem história é, podia acabar aqui, mas prefiro que acabe lá.
Lá, onde?
Naquele quarto de subúrbio.
Aquela noite, o ladrão, à meia-noite em ponto, deu para o filho o belo presente das lojas Emperor, o trenzinho de pilha que tinha luzes diversas e ainda apitava, excessivamente incrementado para qualquer garoto pobre.
O menino, que sabia dos apuros do pai, não recebeu alegremente a maravilha eletrônica.
- Papai, o senhor não devia ter comprado.
- Mas não comprei.
- Ahn?
- Ganhei.
- De quem?
- De Papai Noel, até. Bom cara. Nem precisei pedir. Ele correu atrás de mim e me deu o presente. Disse que a pilha dura três meses. Legal, não?

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Como leitora voraz da série Vaga-Lume aos dez, onze anos, inevitavelmente sou uma fã assumida do Marcos Rey. Sem dúvida, os melhores livros da série são os dele. Faz pouco tempo que comecei a ler os livros adultos dele e só o que tenho a dizer é: Sim, sem dúvida sou fã do Marcos Rey. Pois chegando dezembro, que coisa melhor do que um conto natalino dele, hein? Bom fim de 2011 e, especialmente, boa sorte nos nossos sorteios!

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