Das cenas poéticas caxienses

A beleza de se escrever crônicas é que se pode achar assunto em qualquer esquina, avacalhar inteligentemente com ele ou tornar algo tocante e pronto, vai ter sempre alguém que vai achar engraçadinho. É por isso que, se eu for me comprometer um dia a escrever, será um comprometimento dedicado às crônicas, qualquer outro tipo de texto exige responsabilidade e talento demais.
Mas o pior de pessoas metidas a cronistas, como eu, é que elas tomam gosto pela coisa e começam a avacalhar ou poetizar com qualquer cena que veem. Nos últimos dias, no meu facebook, eu registrei três toscas cenas que receberam mais "curtidas" do que quando eu registro lá algo útil. E ainda prometi transformar duas delas em crônicas. Uma tá lá no blog (com sequência), a outra vem a seguir. 
Na verdade, isso não é bem uma crônica, é uma descrição detalhada de uma cena poética de um início da noite caxiense. É algo tão tocante que sugiro que, antes de ler as próximas palavras, tu vá atrás de um lenço, porque tu vai derramar inúmeras lágrimas.
Tempo pra ir buscar o lenço.
Feito? Então prossigamos.
Algumas vezes, nós, metidos a cronistas, procuramos desesperadamente por algo que tenha o mínimo de espaço para comentários curiosos, mas em outras as situações se jogam na frente de nossos olhos e pedem para serem vistas. Foi o que aconteceu aquela noite. Estava eu cansada, tinha tido um dia longo, voltava para casa de ônibus e meus olhos vagavam pela janela sem nada buscarem, mas eles não puderam não ver o que saltou em sua frente. 
Uma era mais idosa, a outra mais moça, talvez fossem mãe e filha. A suposta mãe andava a passos lentos, provavelmente pelo peso da idade. A filha estava impassível, se algo pudesse ser visto em seu rosto talvez seria impaciência, mas também poderia ser cansaço. Seja lá o que fosse, a filha acompanhava o ritmo lento da mãe o melhor que podia. Saíam elas de uma casa e avançavam para outra próxima, em passos lentos.
Era uma cena certamente bonita. Mãe e filha de braços dados, caminhando no ritmo da mais velha, que, podia-se ver, esforçava-se para ir o mais rápido que podia. Energia presa em um corpo que já não podia usá-la ao máximo. Mas até na cena mais tocante, a soma de um detalhe e de um observador sacana podem destruir a poesia num instante. Nesses termos, eu sou uma observadora sacana e os detalhes vem em seguida.
Eram pouco mais de 19h30, as duas estavam de roupão e a filha com um gigantes bóbis (ou rolo de cabelo) na região em supostamente se localizaria a franja. Respeito o uso do roupão para ir na casa vizinha, mas o rolo no cabelo? E bem quando se mora numa avenida? Às 19h30? Isso tudo fez com que minha mente tosca acordasse e reparasse em cada detalhe. Cada mínimo detalhe. Reparasse e risse sozinha.
Pois assim, reparando, naqueles minutos em que o ônibus por ali andava, vi as duas saindo de uma casa em direção à outra de roupão e chinelo de lã, uma delas com um solitário rolo no cabelo. Vi também chegarem ao seu destino e baterem na porta da garagem de uma casa, cena seguida do detalhe que mais poético tornou tudo: a mulher de bóbis no cabelo, que suponho ser a filha, enquanto aguardava uma resposta de dentro da casa na qual batia, coberta por seu belo roupão, deu uma coçada ímpar na própria bunda. Não foi algo discreto, como se poderia esperar de alguém que já não precisa de mais nada para ser reparada, foi A coçada.
O movimento foi tão intenso que, com toda a minha concentração em reparar, quase tenho a impressão de ter visto tudo em câmera lenta. Forçou ela, com energia, sua mão direita de baixo para cima, da direita para a esquerda, atingindo a área de divisa entre sua nádega direita e sua nádega esquerda. Com a mesma energia, ou talvez até mais, refez ela, com a mão, o caminho de volta. Do banco de ônibus onde eu estava e de onde observava era quase possível sentir a energia dispensada em tal gesto, quase entrei em choque, tamanha minha emoção em presenciar, sem ser convidada, de ver a mulher de roupão e bóbis no cabelo coçar a bunda com tamanha força de vontade.
Quando dei por mim outra vez, o ônibus tinha se afastado e as personagens da cena presenciada já fora do meu campo de visão estavam. Mas era tarde, minha memória já a tinha registrado com extrema perfeição e agora já não poderei mais esquecê-la.

5 comentários:

Pandora disse...

kkkkkkk Só tenho uma coisa a dizer: Mas que falta do que fazer ein!?!?! Quando a pessoa não tem o que fazer é assim mesmo fica olhando a vida dos outros descaradamente e ainda faz piada com uma simples coçada de bunda kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Tita disse...

Pandora, não nos deixemos enganar pelo que poderia ser uma simples e patética cena familiar, imortalizada pelo bóbs e pela coçada de bunda! Também não aceite rapidamente a versão de alguém que tenta se passar por uma inocente viajante de ônibus que descreve cenas "poéticas"!
Nós conhecemos a "cronista" muito bem, já tivemos provas de sua mente astuta. Juntando os fragmentos das histórias que ela conta de forma displicente para tirar sua importância e sabendo da habilidade ariana de perverter os fatos para se adequar à versão que mais lhe convém, de forma a esconder suas verdadeiras intenções, logo notei que existia uma ligação entre essa história e aquela do pobre poeta que se apaixonou loucamente por ela... Aí vai:
1 - Porque uma pobre senhora idosa iria se expor dessa maneira? Claro que existe um motivo para ela arriscar sua reputação e sua saúde saindo do conforto e calor do seu lar com tanta pressa em busca de ajuda, de um local seguro...
2 - Vejam a exatidão das informações de nossa cronista... ela registrou horários, local, todos os detalhes da cena... como só uma pessoa muito atenta iria registrar. Ou seja, ela não estava ali por acaso. E o desenrolar da cena não poderia ter sido acompanhado de um ônibus em movimento. Então, nossa cronista muito provavelmente estava posicionada de forma fixa em frente à casa das pobres senhoras!
3 - Conhecendo a dupla personalidade de nossa cronista e sabendo de sua recente e súbita paixão por um inocente rapaz que foi atraído por seu poder magnético e hipnotizador...
Concluindo:
- o comportamento perturbado do namorado da Ana mostra que ele foi criado sem limites, num ambiente de culpa afetiva, ou seja, criado pela avó que tentava compensar a falta dos pais do rapaz, que foram presos por vender corpos da funerária da família, local onde o rapaz trabalha atualmente.
- A tia tem uma alergia de fundo emocional (que provoca fortes coceiras no corpo) por ter que ajudar na funerária, maquiando os defuntinhos, quando na verdade gostaria de ser jornalista e se dedicar à literatura!
Ok, chegaram à mesma conclusão óbvia???
- as mulheres de roupão são avó e tia do namorado da Ana!!! Ela tá de tocaia e perseguindo as pobres senhoras que não aceitam esse louco amor!
Deixo vocês com essa chocante realidade. Sei que vão precisar de um tempo para digerir tudo isso.

Érica Ferro disse...

HUAHUHAUHAUHAUHAUHAUHA

Tita arrasou no comentário! Chorei de rir, cara!

Só pérolas!

Tita disse...

Vixi! Confesso que estava sob efeitos de substâncias alucinógenas consumidas sem controle (mas nunca mais vou comer brócoli que não seja orgânico). Tanto que quando recobrei a razão pedi para a Ana apagar meu comentário. Garanto que não sofri qualquer ameaça da parte dela, nem recebi telefonemas anônimos dizendo que eu seria difamada num jornal de Casssias.

Unknown disse...

Precisei de um tempo, após tamanhas revelações no outro blogue e, como sou um jovem idoso, poderia meu coração não suportar tamanhos relatos poéticos.
Estou surpreso como o pessoal caxiense é fashion, já disse, há de se criar uma coluna de moda aqui neste blogue feminino baseado no "fashionismo" (nem sei se existe esta palavra) caxiense. Logo muitos estilistas se interessarão e poderá ser criado um Caxias Fashion Week e vocês receberão um baita patrocínio. :P
Ri alto do comentário da Tita, ela e suas revelações, só que agora contou o milagre e o santo! Aguardemos o processo.