Medo da chuva



Demorei anos pra descobrir o que Raul queria dizer. Comecei a descobrir quando comecei a deixar o guarda-chuva de lado e descobrir que um banho de chuva, por vezes, não faz mal algum. Desculpem o clichê, mas lava a alma. Não, não é confortável ficar encharcado, mas é divertido. E é sempre bom sair da zona de conforto, não é?

Outro dia conversei com uma amiga sobre o medo que algumas pessoas têm de serem felizes. Ou melhor, o medo que nós pessoas temos de sermos felizes. Todos temos. Temos medo de ir atrás do que realmente nos dá prazer, nem que seja um sonho maluco e difícil de pôr em prática. Medo de errar. Medo de olhar pros nossos próprios defeitos. Medo de olhar as coisas boas que temos. 

É sempre mais fácil dizer se deixar desanimar na primeira dificuldade. É sempre mais fácil ver a falha do outro. É sempre mais fácil criticar o outro. É sempre mais fácil dizer que o mundo é uma porcaria e que não há razão pra vivermos. 

Só não sei se é pior alguém que nunca se deixa agarrar em um fio de esperança, boa-fé ou o que quer que queiram chamar, ou se é a pessoa que despreza tudo de bom que tem na vida pra se apegar a uma dessas falhas humanas e atormentar a si mesmo e aos que a rodeiam. 

Eu conheço pessoas dos dois tipos e tento ficar sempre de olhos arregalados pra não me tornar como elas. Esse é o tipo de coisa em que ninguém pode fazer nada, só a pessoa mesmo. Só que o que é preciso pra fazer alguém acordar e valorizar o que tem ou correr atrás do que quer? Ora, isso é variável, é subjetivo. 

Eu mesma ainda tenho muito o que acordar em mim, mas antes de esperar uma cura milagrosa, vou atrás de me conhecer. É esse o caminho, não é? É indo por esse caminho egoísta, olhando pra nós antes de olhar pros outros, que seremos melhores. Pra nós e pros outros. Porque, se nós não sairmos do lugar, nossa visão vai continuar angustiantemente sempre igual. 

Eu perdi o meu medo 
O meu medo, o meu medo da chuva 
Pois a chuva voltando 
Pra terra traz coisas do ar 

 Aprendi o segredo, o segredo 
O segredo da vida 
Vendo as pedras que 
Choram sozinhas no mesmo lugar 

 Vendo as pedras que 
Choram sozinhas no mesmo lugar 
Vendo as pedras que 
Sonham sozinhas no mesmo lugar



Ah, semana passada oficialmente veio ao mundo blogueiro O Que Tem Na Nossa Estante, blog que falará de livros, música e cinema. As responsáveis são as minhas companheiras de Meninas de Livros, mas deixo meu papel de xerife para ser uma mera colunista musical no projeto da Michele, da Aleska e da Jaci. Cliquem nos links aí e divirtam-se.

2 comentários:

Allyne Araújo disse...

"A felicidade é um dom, e a liberdade uma dadiva." :) Adorei!!!

Érica Ferro disse...

Concordo com cada letrinha, vírgula e ponto.
"É indo por esse caminho egoísta, olhando pra nós antes de olhar pros outros, que seremos melhores. Pra nós e pros outros. Porque, se nós não sairmos do lugar, nossa visão vai continuar angustiantemente sempre igual."

Muito bom, Seerig!
Não tenho nada a acrescentar. ;)