Pais e filhos: dos medos transferidos e da liberdade não obtida

Um dia desses compartilhei no facebook um trecho do texto da Del Lang em que ela dizia entre muitas coisas sobre maternidade e criação e, hoje em especial, ressalto algumas que cabem ao que vou falar mais adiante: "se um dia eu tiver um filho, isso está mais do que decidido, será para o mundo. Ele lhe emprestarei [...] meu conhecimento para lhe ensinar e motivá-lo a seguir em frente, mas ele jamais será minha propriedade. Irei parir uma criança com a consciência plena de que ela sofrerá as consequências de minha escolha, será um filho mais do mundo do que meu".

Eu como filha, um dia futura mãe, me questiono: quantos de vocês já sofreram com a superproteção de vossos pais? Quantas vezes vocês disseram "eles tinham razão quando me vetaram naquele dia"? Sim, entendo que pais queiram nos proteger de todas as mazelas do mundo, de que enquanto existir a barra-da-saia da mãe, uma cama arrumada e quentinha nos esperando todos os dias, o mundo parecerá apenas um afronta distante. Apenas produz-se uma falsa ideia de segurança. Mas ainda interrogo: quantos de nós criamos medos que não são nossos, mas de nossos pais, porque a vontade de viver nos foi tomado desde pequenos?

Vejo pais dizendo "eu confio nos meus filhos", mas ao mesmo tempo os vigiamos fazendo o oposto da confiança. Acredito que em algum lugar estava escrito "confie, desconfiando" e é daí que surgiu o jeitinho "tudo que é proibido é mais gostoso". E então as represálias viriam, ah se viriam... Senão pelo praguejamento, pela inconsequência. Eu poderia incluir aqui há algum tempo atrás pela falta do diálogo familiar ou pela falta de instrução. Mas esses mesmos pais não estariam educando corretamente suas crias? Bom... "Corretamente". Porque parece que quando não é correto para eles, por mais que sejam aprazíveis a seus filhos, nada será correto. É desafiar o próprio ensinamento. Todo afrontamento é vedado e toda vontade própria é inexistente.

E de onde nasce a opinião própria se não pela discórdia? Quantos pais ainda não dão voz à liberdade de seus filhos? Não curso psicologia, pedagogia e sei muito pouco dessas ciências que estudam com afinco as relações sociais, tampouco tenho experiência para exprimir melhor sobre tal assunto. Porém cotidianamente me deparo com situações familiares moldadas em mil novecentos e bolinha, onde o filho se cala e consente e somente o "cabeça da família" se pronuncia. A dinâmica familiar ainda precisa mudar. É preciso frear o conservadorismo vedado de "minha casa, minhas regras" baseado em desrespeito para com as aspirações individuais de cada integrante. E ainda abro um parênteses: imagine o peso disso tudo quando recai sobre os ombros femininos.

O diálogo e a liberdade é o caminho para o respeito, para o amadurecimento pessoal e coletivo verdadeiros. O filho que eu parir será criado e encorajado para enfrentar o mundo e a mim. Porque sim terei minhas falhas como qualquer ser humano que só quer o bem de quem amo, mas que não seja sobre possessividade e retaliações. Que ele aprenda comigo o valor de ser livre.
Esse texto foi publicado lá no meu perfil, mas trouxe para cá porque queria compartilhar com mais gente esse meu momento de reflexão.

3 comentários:

Nati Pereira disse...

Que eu não erre com meus filhos o quanto que meus pais erraram comigo. Beijos

Allyne Araújo disse...

Ursa, vê "Eu matei a minha mãe" é ótimo! pelo menos eu achei, e tb é interessante de mais. Lembrando, é filme canadense. Bjos!

Camille disse...

concordo com vc! tem que criar os filhos da melhor forma possivel mas erros estao presentes pq somos humanos. amei seu blog]
bjs