Foi sempre assim?

Estou convicto de que a evolução é uma das mais significativas características que moldam a história da humanidade através das eras. Mais do que a mera evolução biológica, interessa-me a evolução social de nossa espécie, manifestada por meio do aprimoramento dos indivíduos em si, das regras das sociedades em que convivem e, por consequência, do próprio conceito de humanidade. A evolução é um processo contínuo e permanente de transformação, na busca por melhores condições de vida a todos.
O contrário desse processo é a inércia, a estagnação, que agem como forças poderosas regidas pelos interesses sempre de alguns poucos, no sentido de manter privilégios em detrimento do alargamento do bem comum. A evolução, portanto, não se dá de forma natural, mas, sim, decorre da determinação de indivíduos ou grupos de indivíduos que se municiam da coragem necessária para empreender as transformações que alteram o quadro vigente e alçam a história para novos e mais significativos patamares.
“Sempre foi desse jeito, as coisas sempre foram assim” é o falso argumento que sustenta a tentativa de manutenção de uma situação que começa a caducar frente a uma nova visão de mundo que se estabelece. Até o início do século 18, na Europa, por exemplo, a visão que se tinha de poder político era aquela que conferia aos reis o dom divino de governar. “Sempre fora assim”, até que começaram a entrar em cena as visões transformadoras do filósofo Jean-Jaques Rousseou, afirmando que o poder político emanava era do povo, e não de Deus.
Africanos foram capturados, feitos prisioneiros e trazidos ao Novo Mundo para serem escravos e servirem aos senhores brancos. “Sempre fora assim”, até que, enfim, o “assim” ficou inaceitável e foi mudado. Mulheres não tinham direito a voto, nem a voz, nem ao mercado de trabalho, como “sempre”. Até que o “sempre” foi questionado e transformado. Tudo o que “sempre foi assim” acaba chegando ao fim quando seus propósitos não atendem mais aos anseios de uma comunidade em constante processo de transformação. É preciso estar em sintonia com os novos tempos, para não correr o risco de ter a cabeça guilhotinada por defender arcaísmos.

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O Kirst é um dos cronistas admiráveis do jornal Pioneiro, sendo que essa crônica foi publicada no último 23 de setembro. Patrono da Feira do Livro caxiense do ano passado, entre tantas crônicas bem humoradas, há também algumas como essa, que traz mais à vista o objetivo desse tipo de texto: fazer com que o leitor pare e pense por um minuto, fazendo-o olhar pra si e ao redor. Enfim, sem mais o que dizer. Passe lá pelo blog dele e bisbilhote bem, vale a pena e será muito bem recebido por ele (e eu não sou a única a atestar isso).

1 comentários:

marcos fernando kirst disse...

Oi Ana!! Mui honrado fiquei com tuss palavras a respeito de mim, bem como pela reproduçao de meu texto no arretado blog de voces!! Mandem bala, tá muito legal!
Abs
Marcos F Kirst