Temporal


Os ponteiros do relógio passeavam pelos marcadores despretensiosamente enquanto meus pés acariciavam o piso gélido. Pela janela do apartamento pude ver o quanto estava escuro esta noite, a lua não nos agracio com sua presença, tornando tudo mais sombrio. Durante longos momentos emprestei meu singelo raciocínio a um quebra-cabeça defeituoso, caminhei sobre a tênue linha que divide razão e loucura. Talvez... Não! Não havia explicação! Nenhuma palavra foi dita ao acaso, tudo foi premeditado. Agora, estou fugindo dos fantasmas de ontem, mas a névoa os acoberta. Esta tão difícil respirar, mal consigo encher os pulmões com oxigênio. O desespero tomava conta do meu ser, juntamente com o medo e incerteza. A beira da loucura estava eu, me restava apenas um último fôlego, o qual usei para um simples desejo.

- Quero experimentar outra vez o temporal! – sussurrei.

Gotas encorpadas colidiram contra minha pele, um som alto e ensurdecedor acompanhado de um clarão fizeram o chão tremer. O vento impetuoso me fez cambalear, contudo permaneci firme. As gotas percorreram meu corpo, causando um arrepio infundado. A água fria que beijava minha epiderme trazia consigo algo que nunca tinha experimentado, uma sensação de leveza inundou-me. Venho perdendo dias de sol, pois as sombras me esconderam, contudo ainda não consigo focalizar a luz solar. Estou ficando maluca, preciso sair desse pesadelo. Nesse instante elevei o rosto ao céu, abri os braços e recebi a tão desejada chuva.

* * *

Como a Rebeca não pôde postar hoje, tomei a liberdade de

escolher um texto dela e postar aqui no Gurias Arretadas.

Belo conto, hein?

Um abraço da Erica, a desvairada.

1 comentários:

Ana Seerig disse...

Talvez uma das grandes razões pra que eu implique com guarda-chuvas é justamente o fato de ver a chuva com essa beleza, com o sentimento de leveza e limpeza da alma.

Belo conto!