Todo dia: supermecado

Toda quinta-feira Airam pegava as crianças no colégio no final da tarde e corria para ir ao supermercado.

- Mãe, posso levar esse M&M’s? – perguntou Eduardo, o filho mais novo de Airam.

- Não, Eduardo. Só o necessário. – respondeu Airam cansada.

- E porque a Ana está olhando essas revistas? Se ela ganhar, eu também quero meu M&M’s! – insistiu em tom de ameaça para a mãe.

- Ana, venha pra cá! – Airam a chamou. – E não, ela não vai levar nada, seu Eduardo!

- Oxe... Que foi? – perguntou Ana. – Só estava olhando – respondeu desconfiada à própria pergunta.

A mãe apenas a olhou de lado e salientou o beiço para mostrar quem estava implicando com o distanciamento de Ana.

No carrinho da frente um menino de aproximadamente cinco anos estava eufórico e sozinho mexendo nas compras dentro do carrinho da mãe. Airam apenas o olhava, parecia ainda um bebezinho por sua pequena estatura e feições. Porém, não sentia nenhum pingo de vontade de carregá-lo no colo e cuidar como se fosse dela, bastavam aquelas duas pestes que lhe deram o cargo de “mãe”. Só que o “bebezinho” estava começando a irritá-la, ele não parava de se mexer entre a prateleira de doces e o carrinho. Enquanto paquerava os doces, batia insistentemente uma caneta nas grades do carrinho. Até que ele não se agüentou, largou a caneta e ao encarar a prateleira, encheu os pequenos bracinhos de Kinder Ovo, Trident, Sonho de Valsa e todas essas besteiras que ele via pela frente. E não teve alternativa a não ser conter aquelas mãozinhas que percorriam habilidosas e rapidamente pelas guloseimas... Saiu bufando detrás do seu, inclinou-se para olhá-lo e com voz baixa perguntou:

- Criança, onde está sua mãe, hein?! – e ele apenas a olhou assustado.

- Eh... Ela disse que já volta – retorquiu.

E ela apenas assentiu e disse: - Acho que ela não vai gostar de saber que você vai comer isso tudo aí – e apontou para os doces, os quais ele estava agarrado. – Vai te dar uma bela dor de barriga, não acha?! – tentou convencê-lo a abandonar as guloseimas e por incrível que pareça, ele soltou um a um, colocando-os no seu devido lugar. Encarando ainda desconfiado para aquela estranha.

Quando Airam olhou para trás Ana estava de novo olhando as revistas e Eduardo com dois chocolates nas mãos: - Esse ou esse, mãe? – pois estava com dúvidas sobre levar um Bis ou um Ouro Branco. E ela aproximou-se dele e deu-lhe duas tapas nas mãos e com voz de ameaça disse: - Ou você solta isso agora, ou conversaremos em casa! Os olhos de Eduardo se encheram d’água, no entanto não as derramou, engoliu em seco as palavras da mãe.

Como a mãe do menininho da frente não havia chegado, eles passaram na frente, pagaram as compras e foram para o carro guardá-las. Entrando no carro Eduardo bateu a porta com força e recebeu outro sermão da mãe: - Eduardo, quando você voltar, pega a porta está bem?! – e ele apenas bufou de raiva.

- Que raiva! Por que a senhora foi educada com aquele garoto que nem é seu filho e comigo ainda me deu tapas por causa dos doces? – Eduardo a questionou, e ela apenas arqueou a sobrancelha esquerda e olhou de lado para Ana, a qual estava sentada no lado do passageiro.

Crianças... Decerto gostamos de vestir carapuças para não nos passarmos de mal aos outros olhos, sendo tolerantes e gentis, mas não nos esforçarmos em sê-lo quando é com alguém próximo. E depois dizem que crianças não sabem de nada... Eduardo tinha completa razão.

2 comentários:

Luana H. disse...

Adorei!
Afinal de contas, a gente sempre acaba guardando as xícaras mais novas e inteiras pra visita.

Ana Seerig disse...

Belo texto, Babs!

Há verdades que só enxergamos sob o olhar simples de criança, nos prendemos demais às transformações do mundo de hoje e esquecemos a simplicidade.