Mal - de - Maria

Maria era uma mulher de apenas 30 anos. Formada em Comunicações Sociais, empregada de uma grande rede de telecomunicações, bem remunerada e, já havia passado uma temporada no exterior para estudar artes plásticas e praticar seu inglês. Ou seja, não tinha do que reclamar, certo?! Errado!

Seu cotidiano resumia a levantar-se as seis e meia da manhã, preparar seu próprio café da manhã, banhar-se, vestir-se e, claro, ir ao trabalho. Uma correria só. Fazia tudo mecanicamente. Às vezes não precisava nem do despertador, seu corpo já sentia quando era hora de acordar e, assim, o fazia.

Passava por todos sempre com um sorriso estampado no rosto pronto para dizer o “bom dia” ou “tudo bem” para quem quer que fosse.Dos seus oito anos de empresa era vista como a exemplar. Porém não entendiam como tal mulher não entrasse sequer em banheiros. Tentavam justificar mais o todo esforço era em vão. Ela mesma brincava nomeando seu problema como o mal – de – Maria.

O mal – de – Maria era não passar em frente a nada que refletisse sua imagem. Sejam vidraças, maçanetas de ferro, colheres, facas, e até mesmo, espelhos.

Naquele ano, no mês de novembro, em seu aniversário fora cumprimentada por todos seus colegas de trabalho. E recebeu inúmeros presentes. Porém, um especial lhe aguçou pelo tamanho, era grande o suficiente para caber algo bem interessante e o embrulho era um dos mais lindos que já havia visto em sua vida. E foi este mesmo que decidiu abrir primeiro. Não hesitando retirou de cima da caixa os diversos embrulhos e o pegou sem muita dificuldade. O segurou do melhor jeito que pôde e leu em sua tampa um pequeno bilhete escrito em bela grafia “Nada devo temer!”. Então o abriu.

Ouviu-se um grito aflito por toda a sala. E todos levaram um susto.

Maria fechou seus olhos e seu presente caíra no chão. Se quebrando e dividindo-se em pedaços. Recebera um espelho de presente. Causando grande espanto em Maria. Em pequenos pedaços ela mesma não se reconhecia. Pensara que juntando cada estilhaço do espelho poderia ver quem era aquela cuja refletia. Nem mesmo assim poderia consertar o que o tempo fizera com ela. Deixara o tempo a maltratar. Fazendo-a pensar que se era bem sucedida e respeitada onde trabalhava, não precisava de mais nada, já estava com a vida ganha.

“Nada devo temer!” – ela simplesmente não queria aceitar-se. Os bom-dias e tudo-bens carregados por um sorriso ensaiado de nada adiantavam. Sua vida permanecia solitária. Não havia amor próprio que modificasse seus dias. Seu trabalho a ocupava apenas 8 horas. E nas horas vagas não se permitia usufruir do supérfluo. Achava uma bobagem tudo isso.

Quantas sofrem do mal – de – Maria? Quantas devem ignorar-se? Sejamos humanas, porém não fúteis. Vaidade em excesso é pecado. Porém em harmonia astral e visual... Não faz mal a nenhuma de nós!

***

Repostagem do meu blog, aliás, foi um dos meus primeiros contos/ crônicas. Fiz algumas mudanças, mas minha opinião continua a mesma sobre a narrativa, quantas mulheres são extremistas. Equilíbrio, eu também estou a procura!

1 comentários:

Charles Canela disse...

Todo espelho anda me refletindo feio, não fico triste com isso, pois sei que não se fabrica mais espelho como antigamente.

Mas falando sério, achei lindo essa mensagem e todo o seu blog.


Renovação

Ruga aparece
Beleza fenece
Da sua aparência não sou pendente
Mas meu amor cresce
lhe fazendo plástica constantemente

(de um novo amigo)