Linhas que uma alma liberta escreveu

É hora de abjugar-me, de liberar as ideias, de deixar que elas se organizem ou se embaralhem de vez. Estou me permitindo. Quero falar do céu, do sol e do mar. Quero falar do sentir. Quero falar dos sonhos que nasceram para morrerem sem ser.
Esses dias notei que não estava admirando o céu, que andava pelas ruas olhando para os meus próprios pés; acho que por medo de cair, ou simplesmente desânimo, ou acômodo, esquecimento. Poucos se lembram de olhar para o alto, de se deleitar com o azul do céu, de espiar a passagem lenta das nuvens e de sentir bem dentro do coração que toda essa perfeição não é obra do acaso. Vi que estava fazendo parte do grupo que anda de olhos fechados para tudo e todos. Abri os olhos a tempo. Agora ando olhando para cima, tão somente para o alto, observando o passar tranquilo das nuvens, me deliciando com o sol sobre a minha cabeça, que me toca a pele com seu calor ora sutil, ora intenso.
Preciso ver o mar. Preciso que o mar me veja. Preciso me encontrar nas águas do mar. Preciso sentir o toque das águas em meu corpo, me acarinhando. Preciso dançar no embalo das ondas. Está decidido! Vou a praia logo menos!
Nas análises de mim, descobri que hoje estou bem menos sensível do que um dia fui. Não que eu tenha perdido a sensibilidade ou deixado que boa parte dela morresse ou se esvaísse não sei por onde e nem para onde. Apenas não acho seguro sentir tanto quanto sentia antes. Antes vivia de joelhos machucados, cotovelos arranhados e febril, por ser extremamente transparente, por não ter nenhum pudor em dizer do que eu era feita, de contar os meus segredos. Me jogava em qualquer abraço que julgava ser amigo, me encantava por qualquer sorriso largo e bonito, mas que na verdade era vazio, sem alegria por trás dele, sem verdade. Hoje desconfio de abraços, de sorrisos, de olhares e de palavras doces. Não, eu não perdi a fé na humanidade; não por completo. Só acho que para o meu próprio bem é aconselhável duvidar de tudo e todos. Dúvidas trazem reflexões e reflexões podem trazer conclusões.
Umas horas sinto necessidade de me mostrar por inteira, de abraçar as pessoas e de dizer a elas o quanto são me são caras. Depois me irrito porque não vejo reciprocidade da parte delas. Depois me irrito comigo por esperar reciprocidade, pois o bonito mesmo é gostar das pessoas de modo despretensioso. Depois me irrito porque o lado mais podre das pessoas me é revelado, o que me faz concluir que boa parte da humanidade é indigna de confiança, afeto e respeito; então me fecho novamente; escondo a sensibilidade sob o tapete da minha alma e volto ao meu hábito de duvidar do mundo.
Amigo, para terminar nossa prosa amalucada, vamos falar das impossibilidades dessa vida. Me diga você, o que é impossível? Vi uma frase que dizia que o impossível não existe, que, com esforço e empenho, se pode transformar o aparente impossível em possível. É verdade? Acho que não tenho conseguindo transmutar o impossível em possível. Não é tão fácil assim. É preciso empenho, força, foco etc. Onde consigo uma porção de força, empenho e foco? Quando saber que vale a pena persistir num sonho? Há uma hora de desistir? Há sonhos indignos?
São tantas as indagações, tantas e tantas e tantas. A vida é mesmo complexa, não é, companheiro? Por isso que a minha lei foi sempre ir vivendo e ir vendo onde o caminho está dando. Mas confesso que me cansa esse negócio de ir vivendo, assim, sem certificados, e eu passo a querer mais que isso, entende? É nessas horas que eu me desespero a pensar, crio mil e uma teorias, mergulho em duas mil e uma utopias, para depois me cansar do desespero e voltar a calmaria de ir vivendo e ir vendo, vivendo e vendo, sem entender direito, apenas com a graça de sentir (o que já é grande coisa).

Originalmente postado no
Sacudindo Palavras,
no dia 27 fevereiro deste ano.

* * *

Pessoas, perdoem-me por não conseguir postar nada inédito hoje.
Asseguro-lhes que tentei, mas infelizmente nada consegui escrever de interessante e, como costumo dizer, "postável".
Espero, sinceramente, conseguir pensar em um tema atraente e desenvolvê-lo de maneira que o considere "postável" para o próximo sábado.
Um abraço da @ericona,
a desvairada.

2 comentários:

Vinícius disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jeniffer Yara disse...

Minha cara Érica, me vi muito nesse seu texto, muito mesmo. Aprendi a desconfiar de tudo e de todos e a não postar tantos créditos na humanidade. E sobre o impossível ser transformado em possível, com certeza com muito foco, determinação e certeza do que se quer. Mas antes de tudo é preciso acreditar em si mesmo ;}


Beijos