E começo a roer as unhas das mãos que antes brincavam com a caneta que não conseguia parar o suficiente para escrever formas com sentido no papel, as mesmas mãos que, depois, ainda vagaram pelo teclado na tentativa de descobrir quais teclas apertar. As palavras simplesmente se perderam. Ou será que eu desaprendi a escrevê-las?
É possível, se bem que agora isso pouco importa. Foram com as palavras, que agora desconheço, as ideias que antes me pareciam tão boas e claras. E o que se faz então? Não é apenas o compromisso de escrever aqui semanalmente que me pressiona, mas a simples, que talvez não seja tão simples, necessidade de escrever.
Que tipo de grupo é formado por pessoas que, assim como eu, sentem a necessidade de escrever palavras a todo instante? Não creio que seja um grupo muito interessante, até porquê acho que nenhuma das pessoas que faz parte dele tem a solução para esse sumiço de palavras que agora tanto me angustia. E o que elas fazem então? Ficam se corroendo internamente enquanto olham pra todos os cantos na esperança de encontrar algumas letras escondidas em um canto escuro da sala ou, quem sabe, bem no meio da rua. Pobres das pessoas que têm que conviver com uma criatura nesse estado!
Cá estou eu olhando com cara de gulosa a todas as páginas escritas que enxergo, desejando encontrar entre elas as palavras que perdi, tentando redescobrir como colocar uma letra do lado da outra e fazê-las ter sentido. Mas é inútil. Tenho uma vaga ideia do que pretendia escrever, das ideias que poderia ter, mas tudo me parece vazio, falta algo. Ah, estou me corroendo e ignorando tudo mais que devia estar fazendo e que não precisaria de palavras.
A mão coça, os dentes mordem o lábio, os olhos não se fixam em lugar nenhum por ansiedade. Desespero. Onde estão as palavras? As perdi antes que as pudesse escrever. E agora? Uma vez perdida, acho difícil que se achem sozinha. Melhor é superar a perda, mesmo que isso pareça impossível, e buscar por novas. Torçam por mim, com sorte até semana que vem eu descubro uma perdida por outro em algum cantinho no meio da rua.
4 comentários:
Apenas quem escreve entende este "drama" dos bloqueios mentais quando mais precisamos nos expressar por palavras.
E nada tem a ver com prazos, embora imagino que o drama seja ainda maior com os colunistas de jornais conceituados, que responsabilidade.
Quando isto me acontece, eu procuro não ficar me torturando, saio da frente do pc, dou uma volta e de repente a inspiração surge do nada.
Ela sempre surge, e você sabe disso. É tão somente uma questão de tempo.
mesmo perdendo as palavras você conseguiu um belo texto, parabéns mais uma vez
amei.
Porque o simples fato de amá-las e reverenciá-las dá texto e um dos mais bonitos. Às vezes, também fico meio neurótica e procurando as malditas, ou seria as benditas?
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