Bom, esse negócio de separatismo é tão complexo quanto simples. Uma vez me disseram que todos nos nascemos sabendo de certas coisas que nunca paramos pra pensar se é verdade ou não, como a dita perna mecânica do Roberto Carlos (que é verdade, aliás, ele perdeu parte da perna esquerda em um acidente de trem aos seis anos). Os gaúchos já nescem com a ideia de separatismo.
É difícil explicar, mas a sociedade geral nos faz crer que o que vem depois do Paraná pouco nos importa e pouco se importa com nós. Todo mundo aprova o separatismo, mas ninguém luta realmente por ele, ou seja, é mais discurso do que realidade.
Eu mesma só comecei a questionar certas coisas através da blogsfera, onde conheci gente de cada canto do país e descobri que não é só a cultura gaúcha que tem do que se orgulhar. Nós aqui temos tanta influência dos castelhanos que dificilmente percebemos a beleza da cultura do nordeste, por exemplo.
Infelizmente há sim quem pense que os gauchos são melhores que o resto do mundo, assim como há quem pense que todos os gaúchos são assim egocêntricos. Os dois casos me dão raiva, pena e vergonha, porque acho isso uma ignorância tremenda. Achar-se superior e generalizar pessoas é ridículo.
Sim, eu tenho orgulho da cultura gaúcha, e defendo isso. Acho lindo ver que, ao som do hino sul-riograndense, todos cantam com vontade. Acho importante lembrar da Revolução Farroupilha, inspirada em motivos econômicos ou não, o fato é que um único estado lutou por dez anos contra o resto desse gigantesco país. Acho lindo casais dançando música gaúcha.
Creio que essa identificação com onde se vive é importante, é isso que torna cada cantinho do mundo interessante.
Lamento que o Brasil não tenha em sua história algo que nos faça realmente nos orgulhar, assim como preferem aceitar uma palavra que defina todo um grupo de pessoas a buscar conhecer por si aquela pessoa.
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*Essa pergunta me foi feita, por carta, pela minha caríssima colega de GA, Dayane, que justificou a curiosidade da seguinte forma:
"Alguns gaúchos que conheci sempre são muito patriotas (será essa a palavra?) com seu estado. Nunca te vi exaltando o RS e fazendo comentários separatistas, por isso tenho essa dúvida."
E o que vocês acabam de ler é a resposta que escrevi e que ela, tão gentilmente, digitou e me mandou para ser postada aqui. Já falei disso no post final do mês especial de setembro lá no blog, mas achei que ficou uma resposta simples e clara e, além do mais, pelo que me foi dito, satisfez aquela que me questionou, então quis expô-la por ser uma questão que sempre dá o que falar. Além do mais, acho que o GA, por ser um blog com gurias de cantos diferentes do país, merecia ter registrada aqui essa resposta à questão que sempre surge, cedo ou tarde, assumindo ou não, ao descobrir-se que alguém é gaúcho.
Agora, se tu tem outra questão mas não quiser mandar sua cartinha de papel, mande sua cartinha virtual para o guriasarretadas@gmail.com e criaremos a coluna "Ana Seerig responde", algo que me divertiria imensamente e facilitaria a temática dos posts por aqui.
(E sim, sou adepta de cartas e tô levando todas as gurias do GA pro mesmo caminho - a Babs já falou disso por aqui. Por sonhos alheios, esse é apenas o início da divulgação das minhas correspondências, que são várias.)
(E sim, sou adepta de cartas e tô levando todas as gurias do GA pro mesmo caminho - a Babs já falou disso por aqui. Por sonhos alheios, esse é apenas o início da divulgação das minhas correspondências, que são várias.)
5 comentários:
Pelo que li em Setembro no seu blog essa coisa de separatismo é mais viagem de vocês do que desejo real!!! Aqui no nordeste também rola esse desejo/discurso de ficar independente!!! Mas é só viagem mesmo!!!
Rola um boato que até hoje os goianos nao aceitam muito bem o fato de terem divido o Estado de Goiás para formar o Tocantins. Se é verdade eu nao sei, ainda não fui atras disto. Existem culturas que se acham mais do que as outras, e isso é algo que nunca vai parar de existir. O RS, acho eu, já não é um exemplo tao forte de exaltação destes traços. Nem os EUA estão mais se auto exaltando como faziam antes.. Acho que uma certa dose de Etnocentrismo faz bem, na medida que preserva a identidade e a cultura, agora quando chega a ser exagerado ai sim a coisa se complica. Boa resposta chefinha! bjoo
Já coloquei minha opinião sobre isso noutras ocasiões, mas vamos lá! rsrsrs
Muitas pessoas apóiam uma boa idéia mas pelos motivos errados ou com argumentos ridículos.
Eu já falei que sou a favor do separatismo não somente do sul, mas de todas as regiões. O Brasil é um país imenso e a mudança do governo central para Brasília só facilitou a corrupção e as injustiças por se encastelarem, dificultando reações populares.
Acredito que as imensas distâncias geográficas dificultam o controle efetivo e a pressão popular para que os governos sejam éticos e trabalhem para realmente atender aos interesses da população.
A imprensa poderia ajudar nesse controle, mas a grande maioria está atrelada a interesses políticos e econômicos.
A grande pressão dos gaúchos pelo separatismo ganhou força a partir da criação de um imposto pago para acabar com a seca no Nordeste (na minha memória isso foi nos anos 70... confirmar). Foi denunciado que esse dinheiro era utilizado indevidamente por alguns grandes latifundiários para benfeitorias em suas propriedades, enquanto os pequenos agricultores continuavam sofrendo com a seca (ACM é o maior exemplo disso). A aparente aceitação popular (com a contínua reeleição desses indivíduos) revoltou os sulistas. Uma revolta válida, uma vez que o imposto que eles pagavam não estava sendo utilizado para seu objetivo.
Casos mais recentes são da criação de estados. O valor de mais de R$ 1 bilhão é gasto para criar um novo estado. E isso é pago por todos os brasileiros. Somente a região sul não prevê a criação de novos estados, mas teria q pagar por todos os outros (como já foi pago por Tocantins).
Para desviar o foco da questão econômica e política, se inventa preconceitos entre populações das diferentes regiões, como dos sulistas contra os nordestinos. Algo absurdo, uma vez que os sulistas até hoje tem pouco contato com os nordestinos. Quem tem contato, sim, é a população do Sudeste, principalmente SP, onde os nordestinos passaram a disputar o mercado de trabalho para fugir da seca e passaram a ser encarados com preconceito.
A questão cultural, para mim, não é um fator válido para defender o separatismo. Dentro de uma mesma região existe grande diversidade cultural. Dentro do próprio RS, existem grandes diferenças culturais entre as regiões de fronteira, serra e região metropolitana, só para citar alguns exemplos. E a diversidade cultural é algo que só orgulha a todos.
Mas assim como os nordestinos acreditaram que os sulistas tinham preconceito contra eles, alguns sulistas também acreditaram nisso e passaram a defender o separatismo por motivos absurdos e preconceituosos. Ou seja, o povo fica brigando entre si enquanto os poderosos se deleitam e se beneficiam!
Ah, encontrei um link muito interessante sobre a indústria da seca que pode esclarecer algumas coisas que eu escrevi baseado em memórias:
http://www.passeiweb.com/saiba_mais/voce_sabia/nordeste_industria_da_seca
Ja disse que ficou supre bem explicada essa carta. Gostei da opnião da Ana, achei super sensata e esclarecida! Gente com opnião própria é assim mesmo! *.*
Também li a resposta da Tita, acho que dá para entender todos os motivos políticos e econômicos, porém se formos analisar por esse lado, todos os Estados teriam que se tornar independentes, e ai imagina a bagunça, né;
Beijos
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