De Cabeça Erguida


Ela entrou no ônibus de cabeça erguida e um leve sorriso no rosto, ou talvez, fosse apenas a áurea dela mesmo. Estava com uma bermuda, uma camisa branca, uma bolsa grande e estilosa e um óculos de sol, desses modernosos, grandes. Altura mediana, uns 20 anos de idade, talvez 22 e loira. Não tinha cabelos, apenas alguns fios finos mostravam que eram loiros, quando os tinha. Rosto angelical, magrinha e com ar de leveza.

Comecei a pensar o que levaria uma moça jovem e linda a raspar a cabeça. Então só pude deduzir que ela estava com algum tipo de câncer. E o cabelo não estava por completo raspado, havia alguns fios, bem finos na parte de trás da cabeça, talvez deixados ali por descuido, talvez as últimas lembranças desse artifício feminino. Se ela quisesse ser careca por opção, teria tirado tudo, creio eu. Mas seja qual for o motivo, e eu prefiro pensar que ela estava sem cabelos por doença e não por estilo, ela levava na alma a leveza da paz. A felicidade estava no rosto dela.


As vezes eu não quero sair na rua porque estou com o cabelo feio, sem maquiagem, mal vestida, e aquela menina, tão linda e tão jovem, estava no meio de um ônibus razoávelmente cheio, com a cabeça erguida. Eu que abaixo a cabeça e não encaro absolutamente ninguém que olha pra minha cara, vi aquela menina olhar firme para quem a encarava. Ela dizia com o olhar: Não tenho cabelo, e por isso sou diferente de você?


Por coincidência ou não, ela desceu em frente á um hospital. Foi andando pela calçada, com aquele ar peculiar de leveza, com seu fone de ouvido, parecia que gingava ao ritmo da música. Talvez fosse apenas o andar de alguém que esta de bem com a vida.

Fiquei ali, olhando pela janela e pensando nas minhas atitudes no dia a dia. Eu que sempre ando com a cara fechada, não puxo assunto, não dou assunto e sempre fico pensando como minha vida é um saco! Não dou valor para as coisas que tenho, minha liberdade de ir e vir, minha certa independência, minha saúde, meu cabelo. E ter que ver uma pessoa mais ou menos da minha idade, andar pela rua com a dignidade de alguém que carrega o mundo nas costas e mesmo assim diz: Eu posso!


O que é a vaidade então? É só uma capa dos seres humanos para ocultar o que vai por dentro de sua alma? Uma roupa, uma maquiagem, um óculos escuros, podem te camuflar e esconder o que tem por dentro. Sejam doenças do corpo ou doenças da alma. E se você perder o seu cabelo? Seu precioso cabelo, hidratado e escovado toda semana? Vais permanecer o mesmo? O mesmo charme, a mesma felicidade? Vai entrar no ônibus de cabeça erguida?


Original do Penso, Logo...Blogo!
 
Beijo da @PetitDay

7 comentários:

Aleska Lemos disse...

As vezes as pessoas que mais sofrem nos deixam sem graça né? Ser feliz é simples, mas gostamos sempre complicar tudo.

Pandora disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pandora disse...

Eu que sou a crise existencial em pessoa que duas vezes por semana me arrependo do que fiz e do que não fiz, que morro de medo de ficar careca, que resmungo por causa do carteiro o que digo???? Não há o que dizer só o que pensar!!!

Babi Farias disse...

Lindíssima crônica, Day! Acho que já havia lido em seu blog, não sei, e mesmo se tivesse é sempre bom reler algo desse gênero. Às vezes, precisamos ver/ ouvir e comparar a nossa vida a de outras pessoas que devem estar bem piores, mas que carregam na face o sorriso e a beleza de estar em paz, de encarar o lado bom das adversidades para pararmos de nos lamentas por pouco... Tenho buscado o equilíbrio e como é difícil!

Tita disse...

Muito bom. Uma vez, eu li numa instalação artística: "as pessoas só acordam quando algo terrível acontece!" Preferi não esperar por nada terrível e abrir bem os olhos antes. E quando estamos acordados, nada é terrível para nós, tudo faz parte do ciclo da vida.

Vinícius disse...

Relendo como fã.

Érica Ferro disse...

Day, há momentos na vida em que a gente ou decide ser forte e encarar o que for pra ser encarado ou desiste e se conforma em ser uma fraca.
Há pessoas, como essa mocinha, que decidem ser fortes e encaram mesmo, de peito aberto, o mundo, seja um mundo lá feio ou bonito, complicado ou fácil. Não vou dizer que sempre sou forte, mas digo que eu tento sempre sê-lo. Porque a vida é só uma pra que soframos em demasia, não é verdade?

Adorei o post de hoje. Muito reflexivo.