O rubor enfeitava o céu, enquanto a noite aproximava-se e no ponto alto da escuridão alaranjava-se. Annie acompanhava da janela do quarto a mudança do céu, a falsa negritude e a temperatura do fim do outono. O rosto apático, as bochechas sobressalientes avermelhavam-se e os lábios quase roxeados de frio pareciam lhe transformar numa boneca que ganhava vida ao anoitecer. Mas ninguém suspeitava quando ela debruçava-se ao batente que seus devaneios eram cheios de porquês e seu coração, coitado, era acusado de insensato, frio e desesperançado.
Os momentos haviam se acumulado desde que aquele sentimento partira e a sensação de vazio instalara no peito. A introversão parecia contagiar os demais e, sorrateiramente, afastava aqueles poucos que ainda lhe eram próximos. Ah, se eles soubessem que aqueles olhos que antes carregavam a sapiência e a curiosidade da juventude somente choravam ao encarar o além e o céu... Ela só precisava de um abraço acalentador, de uma palavra de conforto e um sorriso sincero, para desanuviar os pensamentos e voltar a acreditar em si e nada vida.
Os sonhos silenciaram-se. E naquele inverno, em virtude do cansaço e da busca por respostas, a fim de cessar o seu sofrimento, apenas esperou que o frio se acercasse para amuar-se na cama, debaixo dos lençóis, sobre lágrimas lamuriosas a espera da primavera. E haverá um dia, desses muitos tíbios, que ela não poderá fugir, porque a dor se dissipará da alma e o corpo, enfim, se encontrará isento de lesões. As arranhaduras e cicatrizes tornarão parte de si e ela sorrirá timidamente por estar forte.
Ela se lembrará das preces feitas em tom baixo e agradecerá por existir vida em seus dias, mesmo com toda a sofreguidão e a solidão. Se as perdas dão a impressão de não possuir e não ser nada, não quer dizer que elas são verdadeiras, tendo em mente que a realidade pode ser reinventada a cada novo olhar. Toma Annie, um pouquinho de inspiração para viver!
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1 comentários:
Essa Bárbara é muito linda mesmo.
Conto que toca na alma, hein?
Beijo!
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