Desapego;

“Quem chora e acalanta a solidão, não se permite viver.”

Lembro-me daquela frase como se alguém olhasse em meus olhos carregados de tanta solidão e dissesse-me penosamente, para que eu de alguma forma encontrasse forças para lutar. Sabe quando você está distraído pensando na vida, e escuta algum sussurro com o seu nome e por algum motivo você busca quem lhe chamou? Foi assim que me chegou tal verso – como um sopro despertando-me. Tanto é que não sei se foram palavras de um sonho, enquanto mantinha meus olhos abertos ou se dormi no ponto e acordei com aquela sensação de déjà vu.

O embaraço foi tamanho que meu coração acelerou ritmado num completo descompasso e, ao invés de amuar-me e pensar diante da seguinte reflexão, eu sorri. Eu, um homem leigo em assuntos sobre religião, porém cristão-de-todos-os-santos, que nada sabia sobre quem havia me dito aquilo ou tampouco reconhecia aquela voz melodiosa trazida pelos bons ventos, apenas presenciei um momento tenro de descoberta da vida. O mesmo corpo antes letárgico no banco do metrô agora se recompunha sentindo os fluídos pulsar. Não falo de magia nem de um encontro com alguma divindade ainda em vida; digo: foi um reencontro com minha essência, o meu eu – ou como quiser chamar. Eu apenas senti.

Não, não eu quero promover palestras de autoajuda e nem participar de debates sobre mediunidade ou sobre fantasmas, nada contra é claro. Mas, a partir daquele verso, eu me refiz. Porque os anos, as pessoas, as minhas próprias crises existenciais me desfragmentaram e deixaram que resquícios do que sou ficassem pelo caminho. Como se eu houvesse permitido ao tempo que levasse um pouco de mim consigo. Eu não queria ter me perdido de mim, será que dá para entender? É... Nós temos essa mania de nos perder: de ensaiar conversas frente ao espelho, de esconder nossos medos e desejos por vergonha, de remoer o passado em silêncio com tanto amargura que os dias parecem não ter fim e o presente nunca se faz presente, porque sonhar está fora de moda e você sabe, “a vida têm imprevistos”, então é melhor evitá-los – tudo isso sem exceção nos afasta de nós mesmos como outros tantos sentimentos entrelaçados a essas situações. E eu havia me perdido.

Eu somente provei daquele sussurro, porque eu precisava me desapegar da solidão e me reencontrar. E agora me comprometia a fazer parte de uma união, um pacto virtuoso, entre mim e a felicidade, entre os acertos e os erros e com a vida. A espera de ouvir, ver e sentir um pequeno detalhe da vida, porque essas sim escondem grandes oportunidades para sermos felizes.
Tenho relido vários textos e muitos deles me encontro... Queria eu um reencontro assim, comigo mesma como um dia escrevi. Preciso aceitar a vida como ela é e esperar que eu me encaixe nela. Texto daqui.

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