Uma página do diário de Beatriz


Querido diário,

Hoje o dia foi complicado pra mim. Não, complicado não... foi tenso. Preciso me enquadrar nessas gírias das pessoas da minha idade, afinal tenho 16 anos e não posso falar como uma velha. Sim, eles me chamam de velha no colégio, no curso de inglês e até os amigos que são meus vizinhos.
Hoje foi complicado... ou melhor, tenso, porque constatei pela milésima vez que não me encaixo no grupo da gente da minha idade. As pessoas da minha idade dizem que eu sou muito séria, muito certinha, muito nerd. Eu não sou nada disso. Na verdade, eu não sei bem o que sou. E é uma droga porque isso só confirma mais uma vez o quanto essas pesquisas pseudo científicas acertam quando dizem que nós, aborrecentes (sim, eles nos chamam assim... ou quando não chamam, insinuam), temos uma fase de profundo desencontro e de descobertas e tudo o mais nesse momento da vida.
Sinceramente, não acho que isso seja culpa dos meus hormônios ou seja lá o quê. Eu não sei bem por que sou assim tão área às vezes, tão reflexiva. Não sei mesmo. Desconfio que é porque sou uma pessoa sensível e sinto necessidade de ser assim com quem for e/ou onde for. Mas as pessoas da minha idade não entendem isso e me acham tediosa, só porque eu adoro falar de poesia, de livros, de música dos anos dos meus pais. 
Honestamente, eu não me sinto esnobe só por não gostar das músicas ridículas da maioria dessas bandas atuais. Eu não sou esnobe. Eu só gosto de coisas de qualidade, de arte de qualidade. Apenas isso.
Mas... eu estou apaixonada por um carinha do colégio. Ele não estuda na mesma sala que eu, mas ele demonstra estar com vontade de se aproximar de mim. Ele tem um jeito tão intenso de me olhar e eu sinto umas sensações estranhas no meu corpo. É quase como se eu tivesse flutuando, ao mesmo tempo que meu coração martela dentro do peito. E esse cara é tão descolado, tão cool, tão... popular. E eu não sou a garota popular do colégio. Definitivamente, não sou. E é por isso que não entendo os olhares dele pra mim. Será que ele quer zombar de mim? Ou ele sente alguma atração mesmo por mim? Eu não sou feia, só não gosto de colocar um quilo de maquiagem na cara. Mas acho que sou um tanto atraente, sim. 
Esse carinha popular do colégio é lindo, mas reza a lenda que ele tem um gosto musical horrível e que não aprecia ler. Imagina os ler os meus preferidos! E eu sempre sonhei com um cara que gostasse das mesmas músicas que eu, dos mesmos gêneros literários que eu, até mesmo dos mesmos livros. E ele é tão diferente de mim. Ah, me sinto perdidinha! Porque eu sinto algo diferente quando o vejo e acho que seria capaz de gostar dele se nos aproximássemos. Acho que vou dar uma chance a ele, diário. Vou sim. Porque acho que a vida não é só sobre coisas compatíveis. Acho que não só há amor entre duas pessoas que compartilham os mesmos gostos e opiniões sobre os mais variados temas. Penso que pode existir amor entre duas pessoas completamente diferentes, mas decididas a se amarem, a se respeitarem e a se aceitarem como são. Vou dar uma chance a ele!

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Gostaram do conto? Acho que eu nunca tinha escrito nada nesse linha teen e confesso que gostei da experiência. É sempre bom escrever sobre temas novos de formas novas.
Um abraço da @ericona.
Hasta la vista!

2 comentários:

Cris Medeiros disse...

Ficou bem legal! E todos que se sentem um diferente na sociedade, vai se identificar com o texto.

Beijocas

Aleska Lemos disse...

Ericona, ficou lindo! Me identifiquei um pouco. As pessoas me chamavam de nerd, mas eu não me sentia como uma. Tá que eu baixava animes e adorava livros mas nunca fui viciada em video games ou era qse uma hacker rsss. Eu acho q era mt normal .