Cérebro não é enfeite da caixa craniana. Use-o!


A ideia de criar esse Especial Dia da Mulher foi da guria arretada Bárbara, ideia que eu considerei massa, porque achei bacana dar essa oportunidade de cada guria externar o que pensa não só da data como de várias outros temas relacionados à mulher.
Muitas coisas foram ditas, explicadas, rebatidas aqui por cada guria. E isso foi algo extremamente interessante. Sem dúvida, honramos (mais do que nunca, bicho!) o nome do blog essa semana, porque ser arretada também quer dizer ter “sangue nos olhos”.
E agora é a minha vez de dizer o que penso não só dos textos das outras gurias como também sobre o tema do especial.
Well, na minha opinião, ninguém deveria pedir licença pra ser quem se é. Cada um deveria fazer o que bem lhe apetece e ninguém poderia apontar o dedo e dizer “opa, isso está errado, você não pode ser assim...”. Mas não é isso que geralmente acontece. Esse mundo não é de todos. Há, sim, muito preconceito contra mulheres hoje em dia. Não como houve em outros tempos e com a mesma intensidade, mas ainda há. Hoje a discriminação muitas vezes é velada, disfarçada (até mesmo de humor). Há muitos homens machistas e mulheres machistas também. E por machismo entenda que a mulher foi feita pra ralar a barriga no fogão, que por mais que as mulheres estejam conquistando postos antes dominados por homens, ainda há piadinhas que mulheres são o sexo frágil, há muito descrédito em relação à capacidade da mulher. E por quem e por quê? Por homens e mulheres que foram criados achando que o homem é o sexo superior, que deveria ser o líder em tudo, porque, não sei se baseando em quê, são mais capacitados do que nós, mulheres. Honestamente, existe isso. E sim, são seres toscos, mas não é porque são seres toscos que devem ser ignorados. Ninguém é imutável, e isso vale para os seres tidos como toscos. Sim, eu tenho noção de que algumas pessoas são muito cabeças duras, muito fechadas em si mesmas, mas não é por uma questão de serem imutáveis, e sim porque elas não querem mudar, elas escolheram ser ridículas e imbecis. Porque todas as pessoas que cultivam e disseminam preconceitos são ridículas, são verdadeiras imbecis. Contudo, nem todas são toscas que não querem mudar. Algumas só precisam de que lhes mostrem um novo conceito, que lhes mostrem uma nova forma de ver as coisas. Uma forma mais humana.
A minha ideia é: não peçamos licença pra ser quem somos. Sejamos, simples assim. Porém, se o fato de ser quem somos incomodar a algumas pessoas a ponto de essas pessoas nos ferirem, nos maldizerem, nos prejudicarem e solaparem direitos, então simplesmente ser não bastará. Ninguém pode ser feliz e viver plenamente tendo o caminho atravancado por preconceitos ridículos e conceitos formulados por pessoas de mente subdesenvolvida. É preciso lutar contra o que é injusto, contra o que nos fere e fere o nosso próximo. Ninguém nasceu pra ser menos na vida, pra ser tido como inferior. E é por isso que eu não acho que a causa das feministas (ou de qualquer grupo que luta por respeito e igualdade) seja desnecessária, ainda mais quando falo de maneira global. Aqui no Brasil a coisa está mais ou menos legal para nós, mulheres, mas pensemos nos outros países, naqueles mais rígidos, por exemplo. Então entra a cultura do país e isso complica ainda mais. E tal frase poderia ser facilmente dita para justificar algum ato bárbaro contra a mulher (ou qualquer outro ser humano: homem, criança, etc): “Mas é costume, é assim que a coisa é por aqui por essas bandas”. Não sei se vou falar asneira nesse momento, mas acho que a gente tem que ter o hábito de criticar absolutamente tudo. Não devemos nos acomodar com o que nos ensinam, não devemos nos prender ao que nos é passado como certo. Colocar a massa cinzenta para funcionar, criticar o que lê, o que vê, o que escuta é para os fortes, para quem não tem medo de sair da zona de conforto. E eu não tenho nenhum medo de quebrar conceitos que julgo serem mal formulados, ofensivos, indignos. Eu prefiro ter os meus próprios conceitos, conceitos que prezem pela dignidade humana.
Na verdade, se as pessoas usassem o cérebro, o mundo seria um lugar bem melhor, bem menos injusto, bem mais feliz e habitável. Porém, não é assim, então acho que seres que usam o cérebro não podem se calar diante das coisas e situações iníquas. Porque alguns preconceituosos só precisam de uns sacodes, e quando digo sacodes não quero dizer literalmente. Falei no sentido figurado, até porque violência não elimina preconceitos. Quando falo sacodes, falo de os seres pensantes abrirem a boca e defenderem suas ideias, mostrarem seus argumentos, mostrarem o caminho da luz para essa gente que por tanto tempo andou no escuro, que preferiu viver em seu mundinho fechado e sujo.

E, mulheres que leem o Gurias Arretadas, um abraço! Um dia do ano é pouco para brindar às mulheres, principalmente mulheres como nós, pensantes, geniais e naturalmente espetaculares. Porque humildade é essencial (e bom humor também).

7 comentários:

Dayane Pereira disse...

Meu Deus Erica, você mandou muito bem!
Adorei sua opinião, muito ponderada, sensata, nem 8, nem 80. Admiro muito isso, queria conseguir ser assim também... eu acabo por me posicionar radicalmente demais, sei lá. Você bateu muito bem na tecla das lutas femininas, estas devem ser diárias e por causas realmente necessárias e não por TUDO que tocar no nome da mulher. Enfim, amei seu texto.

Vanessa disse...

Oi, Erica! Gostei demais de ver o seu posicionamento. Acho que seu texto tem uma agressividade na medida certa, uma força que vem da indignação. Mas sabe, só vou discordar do que disse sobre a situação da mulher no Brasil. Não acho que esteja tãão legal. Claro que é bem diferente do caso da mulher indiana, claro, mas quando pensamos na violência, na saúde da mulher, no mercado de trabalho e em questões como o aborto, acho que a situação ta longe do razoável. Mas temos gás pra melhorar.

Allyne Araújo disse...

Nada mais, nada menos do que eu esperava e espero de vc! Teu post ficou muito legal, como disse uma das meninas acima: na medida certa. Bjao!

Ana Seerig disse...

Li hoje de manhã o texto mas só para pra comentar agora. Realmente acho que vale o que somos e, especialmente, sermos como nos faz felizes. E, sim, nosso direito acaba onde começa o do outro. Claro que todo mundo deve ser respeitado e claro que nos sentimos mal quando somos menosprezados, ridicularizados ou algo do gênero, mas eu realmente acho que vale mais sermos superiores a isso, conforme o possível, do que ficar gritando por ai que se foi vítima de preconceito. Como disse na conversa eterna, é tipo apelido de escola, quando tu mostra irritação é que pega.

E, claro, sempre é bom expor ideias e apresentar novas maneiras de pensar aos outros, mas isso não significa que vamos mudá-los. No caso, acho que um protesto não é apresentar novas ideias, é mais defender arduamente o que pensamos. Mostrar novas ideias é debater pacificamente, ouvir a opinião do outro (e muitas vezes os toscos não tem o que dizer para defender suas atitudes, o que já diz o quão eles valem) e, no mínimo, não achá-la absurda, como a conversa que tivemos entre nós 5. Uma questão de respeito.

Quanto a culturas, obviamente que tem muita coisa absurda por ai, mas se isso ainda existe é em função dos 'poderosos' daquele lugar. E, se o próprio povo não acha um modo de lutar contra, o que faremos nós? É bonito perceber o problema dos outros, mas antes vejamos o que fazemos pelos nossos. O que fazemos pela criminalidade? Pela política?

É disso que falo, olhar primeiro o que se passa ao nosso redor: cuidar das nossas atitudes e realmente refletir sobre as atitudes dos outros com nós, se merecem créditos ou não.

E, sim, eu sei, sou simplista demais (ou será que é o mundo que tem mania de complexidade?). Enfim, creio que tu colocou bem tua opinião e, apesar de eu não concordar com cada vírgula, acho que ele foi um baita fechamento pra semana.

Cris Medeiros disse...

No dia que me conscientizei que não precisava pedir licença para existir do jeito que sou, realmente muita coisa mudou.

A vida não muda, o mundo não muda, a gente é que tem que mudar nossa relação com ele.

Beijocas

Pandora disse...

Erica isso foi um texto inspirado e inspirador! Menina!!!! O que foi isso??? Ericona no melhor estilo Ericona de ser master-blast-1000!!! Eu concordo com cada palavra. Você e a Barbara forneceram os textos mais inspirados dessa semana!

Ariana Coimbra disse...

Com toda a certeza do mundo esse é o melhor texto que você escreveu.
Concordo com tudo!
Parabéns!

Beijos