Ruas com histórias

Rua Irmãos Grimm, em Steinau an der Strasse

A maioria das pessoas que têm oportunidade de passar uma temporada na Europa aproveita pra conhecer outros países. Oh, quem não sonha com Roma, Paris, Barcelona, Viena? Suspiros e suspiros só de pensar na hipótese, hein? Pelo menos pra maioria das pessoas. Como é da minha natureza, não me incluo nessa. 

Por presente da minha Gastfamilie, fui a Paris e não encontrei o espírito de amor, de beleza, de encanto. Aliás, não encontrei espírito nenhum. Tantos turistas, tantos vendedores de bugigangas que não te deixam piscar, tantos avisos de "TENHA CUIDADO EM PARIS" - em letras maiúsculas mesmo, porque todo mundo avisava claramente, tantos flashs e empurra-empurra... Apesar do Louvre ainda estar lá e da Torre Eiffel também, não encontrei a Paris que imaginei lendo Dumas e ouvindo as histórias do Santos Dumont. E então tive por certo que devia aproveitar o ano conhecendo cada canto da Alemanha que pudesse em vez de investir em pacotes de turismo.

Passei por cidades cinzas, por cidades chuvosas, por reconstruções pós-guerra. Normalmente as cidades que me disseram não serem bonitas (ou turísticas) foram as que mais me encantaram. Vou fazendo minha rota por um ou outro evento, como shows ou a Feira do Livro de Frankfurt, mas especialmente pela história. Onde o Einstein nasceu? E o Beethoven? Não, não sei nada da vida dos caras, mas me parece mais interessante passar pelas ruas que eles um dia passaram do que conseguir espaço entre outros turistas pra tirar uma foto com um monumento e não ter nem um segundinho pra tentar encontrar onde os moradores da cidade estão escondidos. 

A Alemanha não tem muitas grandes cidades, a maioria delas se pode ver em 4 ou 5 horas, ou menos, como Colônia, que é uma das mais conhecidas no mundo. Eles não são afeitos a se encher de pontos turísticos. Não, os alemães gostam de preservar prédios, histórias e cultura. Calw marcou cada lugar onde Hermann Hesse passou; Baden-Baden dá folga aos motoristas de ônibus nos feriados, mas isso não espanta turistas que vão lá ver as ruínas de um castelo ou mesmo o encanto de uma cidade preservada e com passagem de romanos; nas ruas de Berlin há a marca por onde o muro passou. 

E se não há pontos turísticos a se ver, o que se faz? Anda-se à toa, tenta-se imaginar quantas pessoas conhecidas e desconhecidas passaram por ali ao longo dos anos, tudo que pode ter acontecido, tenta-se sentir como era viver num país dividido, num país que ficou marcado por um líder xenofóbico, num país que teve sua ditadura... Enfim, há tanto o que pensar! E se não for pra pensar, que seja apenas pra sentar numa pedra na beira do caminho e observar. Observar outras pessoas, outra cultura, outro caminho. 

A foto do post foi tirada quarta passada numa minúscula cidade chamada Steinau an der Strasse, onde os famosos estudiosos da língua alemã, os Irmãos Grimm, passaram a infância. Nessa rua tem a casa da família, que virou museu. Subindo a justíssima escada em caracol da casa, minha mãe disse: "Já imaginou os irmãos brigando e descendo ou subindo correndo essas escadas?". Me digam, há maior prazer do que poder imaginar isso?

Fiz uma página no Blogário com os links de todos os posts que fiz sobre as viagens por aqui. No último post tem o vídeo que a Day pediu da minha pessoa falando alemão. 

1 comentários:

GrazieWecker disse...

Li e fiquei pensando que eu tinha que tentar ir para a Alemanha ficar só olhando o movimento por lá antes do fim do ano, pois assim teria companhia...
Acho legal que mais gente ache legal ir para algum lugar diferente e só andar e observar ou tentar conversar com os locais, e sentir o lugar, em vez de pegar aqueles pacotes turísticos caros de gente louca que só vai conhecer as partes artificiais das cidades...

Mas daí eu olhei para as minhas economias e achei que desenvolveria claustrofobia no bagageiro do avião.