Duas letras e muito amor

Eu queria tanto encontrar
Alguém que pense como eu
Com quem eu possa conversar
Alguma coisa sobre mim

Ah, o fabuloso universo de quem gosta de falar de si mesmo. "Eu, humildemente, faço isso muito bem." "Eu tenho essa mania de dizer isso e aquilo que noto nas pessoas, tenho que mudar isso." "Eu agora estou desenvolvendo a seguinte ideia." "Eu acho que as pessoas ficam desconfortáveis na minha presença." "Eu fico feliz que as pessoas reconheçam que eu faço isso bem porque eu sei que faço mesmo bem." "Eu, há um tempo atrás, era muito idiota." "Eu gosto de falar com pessoas que têm o mesmo nível que eu quando o assunto é tal." "Eu tô sempre fazendo isso, não te importa, eu sou legal."

'Eu' é, definitivamente, a palavra favorita desses seres. Ou seja, elas se amam de verdade. Pode ser implicância minha, mas, de fato, eu não vejo sentido em ficar se descrevendo por aí. Ok, apoio as autoanálises, apoio que as pessoas identifiquem suas falhas e virtudes, apoio que fiquem próximos de pessoas que gostem das mesmas coisas; mas nada disso quer dizer que eu ache interessante conversar com uma pessoa que venha com discursos que são praticamente o seguinte:

Hoje eu encontrei a pessoa que eu procuro
Uma pessoa que eu quisesse comigo vinte e cinco horas por dia
Uma pessoa que me entendesse, em quem eu pudesse confiar
E essa pessoa, princesa, essa pessoa... sou eu!

Outra especialidade dessas encantadoras pessoas é ter SEMPRE que se pronunciar sobre um assunto, seja ele qual for. Seja pra discordar ou concordar (ou antes, complementar), eles sempre se pronunciam. Eles jamais se satisfazem em ficar quietos, sentem certa obrigação de mostrar que estão ali e acham que têm o dever de repassar todos os detalhes do universo dos quais eles têm conhecimento. Aliás, outro detalhe, essas criaturas se vêm como referência de bondade no universo, já que gostam de esclarecer tudo, mesmo que não haja quem sinta falta de um detalhe mínimo. Ok, sou a favor de trocar ideias e informações, mas... sempre a mesma pessoa se pronunciando?

E eles jamais estão errados. Claro, eles não vão dizer que tu está errado, mas falará delicadamente (nas suas próprias concepções) que discordam e ficarão três dias falando sobre o assunto, dando todos os dados que sua memória pôde guardar. Obviamente, eles jamais perceberão que o que estão falando é dispensável, muito menos que a pessoa que os escutam já não os escutam de verdade. Do mesmo modo, eles jamais verão que apenas eles não ficam quietos nunca em determinado grupo e estão sempre falando e falando. Ou seja, o futuro é visto assim:

Foi tão difícil pra eu me encontrar
É muito fácil um grande amor acabar
Eu vou lutar por esse amor até o fim
Não vou mais deixar eu fugir de mim

Em resumo: não se aproxime demais desses seres, ele não mordem mas, depois de algum tempo de convivência, causam danos psicológicos. Me digam, é tão difícil não expor o amor-próprio com tamanha vontade? Quem nunca teve um colega sabichão na turma que, por mais que uma pergunta estivesse respondida, começava a discursar e enumerar detalhes que nem o professor aguentava ouvir? Quem nunca sentou para conversar com uma pessoa e: a) mal falou duas palavras, já que a pessoa não parava de falar sobre assuntos completamente desconhecidos?; b) ficou horas e horas ouvindo e dando conselhos bestas para situações bestas vividas por uma pessoa besta?. Bom, os casos são muitos, aí eu me pergunto: Por quê? De verdade, como essas pessoas aturam a si mesmas? Ah sim, é que elas se amam demais.

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Músicas (na ordem do texto)


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