À distância

Tudo fica mais simples visto de longe, isso não é novidade. É sempre mais fácil achar solução pros problemas alheios do que pros nossos, sem falar que os defeitos dos outros são mais gritantes pra alguns do que os seus próprios. Isso eu sei há tempos, tal como a tua simpática pessoa que para pra ler um texto meu. 

A questão é que, depois de um ano do outro lado do Atlântico, eu tenho uma nova dimensão dessa lógica. Quando tu estás longe, pessoas que mal te viam, te amam e morrem de saudade de ti. Aí tu volta e elas continuam cheias de saudade, mas sem horário disponível na agenda pra te ver. Não, não é exagero. Vocês se impressionariam com a proporção em que isso acontece. Mas isso não é o pior. 

O pior é tu mesmo. Tu passas um ano do outro lado do Atlântico imaginando mil coisas e, quando volta, elas acontecem (se acontecem) bem ao contrário. Aliás, acho que não são as coisas que acontecem ao contrário, e sim a reação que tu tem diante delas, oposta ao que imaginava que teria. É complicado explicar. Mas isso ainda não é o pior. 

O abominável da coisa é toda aquela lista que tu fez de coisas boas que colocaria em prática e, além de não fazê-las, ainda cai no mesmo buraco em que estava antes da viagem. É absurdamente fácil planejar e imaginar mil e uma situações, mas torná-las reais exige um pouco mais de vergonha na cara, aí, quando tu percebe isso, se dá uns tapas na cara mentalmente e percebe que não andou um passo pra frente. 

Acho que um exemplo claro e simples é: virada de ano. Todo fim de ano muitas pessoas estabelecem mil coisas pro ano que virá e, antes de metade de fevereiro, já não lembram mais o que era. Por que diabos fazemos isso? Isso é autosabotagem. Nos odiamos tanto assim? Ou é mera comodidade? Receio de que as coisas fiquem piores do que estavam? 

Esse é o momento em que a única espécie de resposta que surge na minha cabeça é um dos meus mantras musicais. Encerro com ele, porque ele diz mais do que o texto todo: "É melhor se arrepender do que se fez do que não ter tido a coragem de fazer".

4 comentários:

Allyne Araújo disse...

Tudo a distância é mais bonito.. isso é mais antigo do que a certeza que minha mãe acha q tem sobre dizer que não há lugar melhor do que a nossa casa, mas vai viver as situações que vc deixou pra trás quando saiu pra dizer que tal coisa é realmente 100% bom. Acho que a grande sacada da coisa é q vc já conhece o caminho, e sabe o que acontece lá fora, então pode fugir, ou nem por isso propriamente fugir, mas enfrentar sem necessariamente se desgastar como antes. bjosss

Érica Ferro disse...

É autossabotagem. É comodismo. É medo de dar errado e lascar ainda mais com a vida caótica ou sem graça em que se vive.
Seres humanos são complicados. Digo "seres humanos" como se eu não fosse humana. É que humanos têm essa mania de não admitir suas falhas, suas faltas etc.
Na verdade, tornar a teoria na prática é fácil, mas é um fácil que exige muita força e desprendimento do passado e receio algum do futuro.
Acho que o complicado mesmo é dar o primeiro passo. Quando a gente dá o primeiro passo, parece que as pernas passam a andar sozinhas. Ou algo do tipo.
As coisas começam a acontecer, a se encaixar num bonito quebra-cabeças. Não que tudo vire flor e amor, mas com certeza melhora imensamente do que se ficássemos na mesmice e/ou na inércia.

Gostei do seu post reflexivo, Tchê Seerig.
Devaneei legal no comentário. ;)

Rebeca Postigo disse...

Mudanças...
Difícil não é fazê-las e sim mantê-las...
Excelente crônica Ana!!!
Nos faz pensar sobre um bocado de bobagens que deixamos assumir o palco de nossas vidas...

BJo, bjo!!!

Tati Tosta disse...

Seu mantra musical é ótimo. E seria melhor mesmo, se a gente conseguisse sempre fazer assim.


Às vezes, eu penso que a gente vive pra se ver nesse ciclo sem fim de prometer coisas a si mesmo e não cumprir.

é doido isso.