Solidão não pede coração vazio
Frederico Elboni
Esses dias me perguntaram o
porquê de eu gostar tanto de ficar sozinho. E como se não houvesse outra saída,
respondi: Pois solidão é companhia.
Todos com olhares de pouca
compreensão e, mais perdidos do que cebola em salada de fruta, disseram: “Ah,
mas um dia vais querer alguém para dividir a vida e…” E fazer sexo em
lugares inusitados, acrescentei. Instantes depois respondi em tom de afirmação: “Claro
que vou, quem não quer viver de amores?”
Todos confusos e com as
sobrancelhas arqueadas em forma de interrogação, questionaram-se em silêncio: “Como
esse cara diz gostar da solidão, mas quer viver com alguém?” Tudo isso
como se a solidão pedisse escuro, amargor no peito e whisky sem gelo. Como se a
solidão fosse, somente, solidão.
A questão é que quando digo
gostar da solidão, todos – quase sempre – se entreolham com olhares assustados
e contemplativos, como se a solidão necessitasse de um coração vazio. E assim,
como se soubessem tudo sobre a vida e suas escolhas insólitas, constroem
castelos de verdades, como se a solidão fosse: eu sem opções. Mas mal sabem
eles que a solidão sou eu com todas opções.
Ah, que burrice achar que na
solidão não há solidariedade… Nas escolas deveriam incluir aulas de
solidão. E antes que você me julgue louco – o que eu até acharia um charme –
pense comigo o quão gostoso é esse seu momento sozinha me lendo. Todos a sua
volta podem achar que no fundo você realmente está sozinha, mas, pelo menos pra
mim, estamos aqui juntos. Você me lendo, eu te lendo, e quem sabe, sorrindo.
Solidão é isso, autoconhecimento, certezas assentidas e plenitude. É sorrir
sozinho, mas no fundo, estar tão junto de si, do mundo, dos outros.
Eu amo sentar e refletir sobre os
horizontes que ainda terei que descortinar, as bocas que irei beijar e roubar
céus de batom, os plásticos bolha que ainda estourarei com cara de
batata-sorriso e os aprendizados que irei retirar das saudades e suas solidões
acompanhadas.
Ouvir música é solidão. Pensar é
solidão. Escrever é solidão. Se interiorizar e equilibrar as emoções é solidão.
As solidões se protegem e agregam umas às outras. Fluir na leveza da solidão é
ter coragem de se enfrentar. E se enfrentar é descobrir como somos mistérios.
Quem sabe respeitar a minha
solidão ganha o melhor de mim. E olha que nem estou falando de sexo e
panquecas.
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Frederico Elboni por ele mesmo: Pode me chamar de Fred. Chato e ranzinza por opção. Apaixonado pelo comportamento humano e suas facetas. Autor roteirista do Amor & Sexo da Globo. Apaixonado pelos conhecimentos empíricos da vida, sushi e nhá benta. Acredito fidedignamente na teoria que os sorrisos podem curar qualquer coisa. Agora, deixe-se envolver pelo blog e pare de olhar a minha cara de mamão. Ah, e autor do livro "Um sorriso ou dois".(...)
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2 comentários:
A solidão é uma sensação interessante, e as vezes indescritível.. A quem diga que ela é um ato antissocial e altamente egoísta, mas o que seria dos grandes romances sem alguns breves minutos de solidão, contemplação e dor? rsrsrsr... é, gostei desse post alheio! Bjão
Entendo perfeitamente suas palavras. A madrugada mesmo é um momento que me encontro na solidão e amo!
Adorei seu texto, pois me encontrei muito nele.
Beijos!
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