A deficiência está nos olhos de quem vê

Antes de eu começar a falar, vamos ver o que significam alguns termos que vou utilizar, de acordo com o dicionário:

- ignorante:
Aquele que ignora.

- inclusão:
Ato ou efeito de incluir.

- excluir:
1. Pôr fora; pôr de parte; não contar; não incluir; omitir; expulsar.
2. Tirar (de lista, de enumeração).
3. Não admitir.
4. Não deixar tomar parte.
5. Exceptuar!Excetuar.
6. Privar da posse de alguma coisa.


Agora posso falar sobre a tal inclusão social. Eu não concordo e sabem por quê? Lendo os termos acima não lhe veio nada à mente? Então eu explicarei. Aos meus olhos ninguém é excluído, ao passo que não pode ser incluído em algo. Então para que a inclusão? Para o governo se promover em cima das pessoas menos favorecidas? É bem provável. E o que mais me espanta é que não só o governo, mas as famílias também tentam tirar casquinha no caso de deficientes. Não todas as famílias, é claro. Sempre há pessoas boas que não se aproveitam.

Você tem algum parente deficiente? Quem sabe um colega de escola ou de trabalho, que tem passado frio neste inverno por falta de agasalho em casa? Não precisa nem ser seu colega, mas você já viu não viu? Se você não conhece nem viu nenhuma pessoa que se encaixe nestes padrões, eu sinto lhe informar que você não é deste planeta.

Então, partindo do princípio que eles precisam ser incluídos na sociedade, quem foi que os excluiu? Eu sei a resposta: Nós. Cada vez que olhamos pessoas com AIDS com cara de nojo, que vemos pessoas pedindo comida e fechamos os olhos, quando olhamos analíticamente para homossexuais, amaldiçoando os pais que os deixaram sair assim na rua, estamos excluindo estas pessoas do direito de ter uma vida igual a nossa. Nenhum de nós está livre de passar fome e frio, nem de ter alguma doença, seja ela qual for. O destino a Deus pertence. Agora você tem teto, comida farta, roupas no seu guarda-roupa que você nem usa mais, é saudável, tem TV a cabo, internet e sei lá mais o que. Mas já diz o ditado: Deus dá com uma mão e tira com a outra. Um belo dia você pode ser despedido, pode levar um calote que deixe dua conta no vermelho. Pode ter um filho com síndrome de down. Ou um filho gay. E aí? Vai continuar fechando seus olhos quando isso acontecer? Aí você vai ver o outro lado da moeda.

Fugi do tema? Não. Eu apenas dei os vários motivos que me fazem pensar que a inclusão social só existe porque somos todos ignorantes. Fechamos os olhos para o mundo, para as pessoas que não são "normais" aos nossos olhos críticos. No fundo todos somos normais. Todos nascemos da mesma forma, precisamos de água e comida para sobreviver, de roupa para vestir, de educação e de saúde. E claro que a educação que eu estou falando não é apenas aquela que se aprende na escola, e sim aquela que se deve aprender em casa. Não importa de que raça somos, qual nossas crenças e religiões. Somos gente e merecemos respeito. É tão ruim ser observado como se fosse uma aberração. Eu não senti na pele, mas tenho parentes com doença mental, e meu primo, que faz mais papel de irmão, é negro. E quando estamos juntos sempre nos olham torto. Provavelmente ficam pensando: "O que aquela loirinha faz com aquele negão? Nossa, ela está abraçando ele!". Vocês que estão lendo podem até ficarem chocados, mas as pessoas pensam exatamente assim. E as vezes pensam tão alto que podemos ouvir. Eu fico magoada, porque meu primo é a melhor pessoa do mundo, e eu jamais vou deixar alguém menosprezar ele por causa de sua cor de pele. Quantas vezes ele me contou de professores que implicavam com ele pela forma de se vestir? Isso é discriminação, o que gera exclusão, tanto que precisamos de inclusão.
E tenho dito.


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Com tantos contos fantásticos, optei por esse texto da minha queridíssima Gabs. Por quê? Pelo simples fato de que acho esse um baita tema, no qual deve ser pensado. Concorde ou não com o que ela escreveu, mas pense no assunto. Também acho que essa história de preconceito só existe pra quem quer ver. Se aceitássemos e, especialmente, respeitássemos uns aos outros, a palavra "preconceito" nem teria sido criada.
Esse texto foi postado originalmente aqui, em 9 de julho de 2009. Não, não fiquei muitas horas revirando o blog dela, porque ela deu uma parada nas postagens ano passado. MAS, agora ela está de volta, então vá conhecer o cantinho da Gabs que vale a pena.

8 comentários:

Érica Ferro disse...

OXENTE! Como não conhecia esse texto da Gabriele? Adorei! Tão verdadeiro, tão... tocante.
Ah, mas sou suspeita a falar sobre o tema e, na verdade, não queria ser a primeira a comentar. Quero ver as opiniões sobre ele, isso sim.
Antes das 00:00 volto aqui e, aí sim, digo tudo o que eu quero dizer sobre o tema.

Allyne Araújo disse...

vc so sente o que é discriminação quando sente na pele. A Erica sabe qual é a minha... já falamos sobre isso uma vez. é a pior coisa q tem é vc ser rotulada por algo q as pessoas nem sabem o que.. É uma pura falta de sensibilidade! eu quero voltar aqui quando a Erica falar, ai a gente conversa mais... Bom texto Ana!

Érica Ferro disse...

Allyne, sei que nós já conversamos sobre o tema, mas seria interessantíssimo ler o que você tem a dizer sobre o texto.
Eu estou esperando opiniões. Quero ver qual é o posicionamento das pessoas em relação ao tema. Se eu comentar antes disso ocorrer, não terá a menor graça.nteressantíssimo ler o que você tem a dizer sobre o texto.
Eu estou esperando opiniões. Quero ver qual é o posicionamento das pessoas em relação ao tema. Se eu comentar antes disso ocorrer, não terá a menor graça.

Allyne Araújo disse...

A Erica me fez lembrar de um professor Negão da facu (isto mesmo, Negão com N maiúsculo, porque se for chamado de moreno ou pardo o cara realmente se sente ofendido, e ele faz questão de que todos o chamem assim) ele foi a primeira pessoa a chegar na nossa sala e dizer: "eu sou negro cor da noite, sou negro sim, e nada vai me fazer mudar sobre isso porque eu gosto de ser assim, exatamente assim!".
Falar sobre esse assunto nos trava por dois motivos: vc nunca acha q pode ser com vc e segundo pq acha q as coisas sao todas as mil maravilhas. Repito o que digo acima, só se sabe o que é discriminação quem a sente, a sente todos os dias do ano, a cada dia e hora.
O governo se auto promove em cima disso sim, inclusão aqui, inclusão ali e o que era construído passa a ser tido como natural, vc inclui porque da promoção, da voto, da isso e da aquilo, quando na verdade o respeito vai as pombas!
Uma coisa que graças a Deus ficou bem conhecida hj em dia foi o Bollying, através dele muitas pessoas tomaram vergonha na cara e começaram a rediscutir o assunto, um assunto q leva a este e a outros tantos que continuam por ai. E a catarata das pessoas é tao profunda que vc ainda escuta por ai assim: mas gente, eles ainda discutem isso? pensei q havia sido encerrado... É o fim!
outra coisa q eu acho o cumulo, por que tanta publicidade para os esportistas das olimpíadas "normais" e pouca, quando muito, para as paraolimpiadas? este sim, q nos orgulham sempre e fazem questao de competirem pelo Brasil.
Concordo com a Gabriele, e com a Erica, como vc incluir aquilo q em si não é excluído? para onde vai o respeito e educação que as pessoas aprendem todos dias na escola? e outras tantas outras coisas que permeiam este assunto?
Pra falar a verdade, não sei ser humano é mesmo algo bom, porque humano deferia ser sinônimo de coisa boa e não de tanta coisa ruim q a gente ver por ai.

Vivian disse...

Olá!

Muito bom o texto! Também não concordo com a inclusão...até porque (no caso das escolas, com alunos com deficiência)não estão preparando os professores para atender adequadamente...que inclusão é essa?
Parabéns pela escolha do texto!
Dá uma bela reflexão!
Beijos

Dayane Pereira disse...

ADOREEEEI esse texto!
Com certeza irei visitar o blog dela.
Postei também sobre o preconceito hoje, ja estava pensando nisso ha um tempããão.
Mas ela disse tudo: Se existem excluídos, é porque nós os excluimos/

Érica Ferro disse...

Não sei se interpretei direito o comentário da Vivian, mas desconfio que ela também não sentiu a essência do texto.
O termo INCLUSÃO, obviamente, remete à EXCLUSÃO. E só pode ser incluído quem, em algum momento, foi excluído (claaaaaaro!).
O que a Gabi quer dizer no texto é que a INCLUSÃO nem deveria existir, pois nós, se usassemos nossa massa cinzenta, se largássemos nossos preconceitos torpes, se tivéssemos a sensibilidade de enxergar que todos somos iguais em direitos e deveres, apesar das diferentes características físicas e psicológicas, não excluiríamos ninguém, conseguiríamos viver pacificamente com as diferenças; ou seja, não existiriam pessoas excluídas, vivendo à margem da sociedade, esperando o aparecimento de projetos inclusivos para que possam se sentirem utéis e verdadeiramente integrantes da sociedade.
E outra... Os ambientes é que devem se adaptar ao deficiente, e não o contrário. Adaptar um lugar, tornando-o acessível, não é tão difícil assim. Às vezes pequenas mudanças melhora significavamente o dia-a-dia dos deficientes.
As escolas devem se capacitar em "educação inclusiva" (odeio esse nome), sim. Mas o deficiente jamais pode ser privado de estudar porque a escola não é capaz de dar assistência a ele. Isso é desumano. ISSO TEM QUE MUDAR. A minha alegria é que, aos poucos, isso está mudando.

É provável que eu tenha esquecido de comentar algo, mas, no momento, é só isto.

Rebeca Postigo disse...

Egoísmo é observar o mundo e não viver nele...
Incluir pessoas diferentes é uma maneira velada de dizer: Somos preconceituosos!
Só que esquecemos...
As pessoas são diferentes...
Aceitar isso é uma tarefa difícil, mas se quiser viver nesse mundo existe uma regra simples...
Pare de rotular as pessoas...
Não são apenas os deficientes que devem ser desrotulados, mas as pessoas normais, como eu e você...
É assim que penso...
Belo texto da Gabriele!!!

Bjs