Negro de 35

A negritude trazia a marca da escravidão
Quem tinha a pele polianga vivia na escuridão
Desgarrado e acorrentado, sem ter direto a razão

Castrado de seus direitos não tinha casta nem lei
Nos idos de trinta e cinco, quando o caudilho era o rei
O branco determinava, fazia e ditava a lei

Apesar de racional, vivia o negro na encerra
E adagas furavam palas, ensanguentando esta terra
Da solidão das senzalas tiraram o negro pra guerra

Peleia, negro, pela tua independência
Semeia, negro, teus direitos na querência

Deixar o trabalho escravo, seguir destino campeiro
As promessas de igualdade aos filhos no cativeiro
E buscando liberdade o negro se fez guerreiro

O tempo nas suas andanças viajou nas asas do vento
Fez-se a paz, voltou a confiança, renovaram pensamentos
A razão venceu a lança e apagou ressentimentos

Veio a lei Afonso Arinos cultivando outras verdades
Trouxe a semente do amor para uma safra de igualdade
Porque o amor não tem cor, sem cor é a fraternidade

Peleia, negro, pela tua independência
Semeia, negro, teus direitos na querência

Peleia, negro, com as armas da inteligência
Semeia, negro, teus direitos na querência

Essas belas palavras são de uma música gaúcha interpretada por Cesar Passarinho em uma Califórnia da Canção Nativa, o maior e mais respeitado festival de música gaúcha. Como bem diz a descrição do vídeo que postarei a seguir, essa é talvez a mais bela interpretação de Passarinho desde a já eternizada "Guri" (nesse vídeo do link, acompanhado por Renato Borghetti). Ah, sim, creio que pra maioria peleiar não é um verbo conhecido, então esclareço: no "gauchês" quer dizer brigar, nesse caso específico, lutar. E eis aqui a Lei Afonso Arinos (e quem foi Afonso Arinos). Não tem mais o que dizer, a mais bela canção que já ouvi sobre a escravidão e o preconceito. Mas e aí, o que me dizem da música e, especialmente, do assunto? Agora ouçam essa incomparável interpretação:

3 comentários:

Pandora disse...

A Ana, se der tudo certo e eu realmente for dar oficina de história e cultura afro vou levar lindamente essa música na minha bagagem!!! Adorei!!! #GuriaArretadaCulta

Pandora disse...

500 anos depois estou reencontrando esse texto! E essa música melhora com o passar do tempo!

Pandora disse...

P.S.: Negro da Gaita é incrível também tá!!!